Ofegante depois de tanto correr o guerreiro caiu se joelhos
a beira de um riacho vencido pelo cansaço. O sol batia sutilmente suas mãos que
estavam ardidas pela queda.
Olhou para trás para ver se ainda estava sendo perseguido e
notou que havia finalmente despistado eles. Olhou para seu reflexo no brilhante
riacho e se encarou. Faziam tantos meses que não se deparava com sua imagem que
quase não se reconheceu. Seus cabelos haviam crescido e a coragem em seus olhos
haviam dominado seu interior. Estava diferente, havia se fortalecido depois da
guerra e esses efeitos ninguém jamais haveria de entender, somente ele que
passou pelo que passou e principalmente perdeu o que perdeu certa vez em um certo
rio.
E como sempre a água.
E de seus olhos novamente, depois de tantos meses ele se
colocou a chorar. Nem pelo cansaço que seu corpo gritava, mas pela sua alma que
precisava de ar.
Uma gota de sangue mancha a água e então ele se dá conta que
havia sido ferido.
As vezes ser guerreiro cansa, ter que ser sempre forte,
sempre persistente, sempre encarar seus medos e se encarar a cada estagio que a
vida avança[ e somos sempre nossos inimigos mais difíceis, e sempre diferentes,
e sempre relacionado a nossas escolhas e temores]. Porém dessa vez o guerreiro
não estava cansado de lutar, apenas estava cansado de ter que defender uma
coroa.
Quem realmente é seu rei afinal?
Limpou sua ferida com a água corrente e depois saciou sua
sede. Mas do que ele tinha sede de verdade?
E então olhou ao seu lado e viu uma flecha caída,
provavelmente a que acabou pegando ele de raspão e o ferido anteriormente na
corrida. Tamanha foi sua maratona que nem havia se tocado que levara consigo
acoplada em suas vestes a arma do crime. E foi quando ele então entendeu tudo.
Não era o cansaço, não era a sede e sim o rei.
Até que ponto pode-se entregar a luta em nome de uma pessoa
que se esconde por de trás de um ideal se ela sequer tem coragem de enfrentar a guerra frente-a-frente? Jogando apenas os
melhores guerreiros em seu nome e inserindo em seus corações honrosos o mérito
da glória em defender sua nação quando na verdade esse rei... ou melhor “rei” sequer
sabe o que realmente significa conquistar a glória por si só? De que vale ser
um rei vitorioso através da gloria e da morte de outros guerreiros e não
através de sua própria glória? Que honra existe nisso? Hierarquia Monarquica,
privilégios sociais ou seria medo da morte? E porque esse rei teme tanto a
morte se a vive todos os dias por não se aceitar como é e fingir ser algo que
não é- e esse reinado de falsas língua e unicórnios de papel-?
O guerreiro e a verdade, sempre através da água.
Ele sente saudades do mar....